segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sentimento Ininterrupto



― Alô?
― Não esperava ser atendido assim.
― Ah! É você Eric?
― Percebo que você não possui mais o meu número em sua agenda telefônica.
― Não, não mais!
― Fui tão cruel assim?
― Foi o mais sensato! Levo muito a sério a palavra fim. Desfaço-me de tudo que me liga ao passado.
― Suas palavras me machucam.
― Não mais do que você me machucou.
― Estou ligando porque eu queria te reencontrar, olhar para os seus olhos e dizer o que aconteceu.
― Já se passaram três anos e hoje sou madura o suficiente para entender que você simplesmente não me quis.
― Eu sempre a quis! Por favor Lisa, deixe-me te explicar o que ocorreu dentro de mim.
― Agora é tarde! Não complique minha vida. Atualmente sou casada. Estou esperando um filho.
― Um filho? Você está mesmo grávida?
― Não tenho motivos para mentir, ainda mais com um assunto sério desses.
― Pensei que um dia eu fosse ter filhos com você.
― Pois é! A vida é injusta, não? Ou melhor, justíssima! Não me arrependo de nada que fiz da minha vida. Nem mesmo ter me envolvido com você. Tudo é um aprendizado. E ao contrário do que você possa imaginar, não lhe tenho ódio.
― Sei que não. Acredito que muitas coisas estão se passando em sua cabeça, mas me dê apenas a chance de lhe dizer algo.
― Vá em frente. Esta é a sua chance!
― Não por telefone! Quero te ver.
― Então guarde para si tais palavras. Te ver está fora de cogitação. Estou sendo educada em conversar com você por telefone depois de todos esses anos.
― Tudo bem! Se esse é o único jeito, vou utilizá-lo para dizer o que preciso.
― Então... Do que se trata?
― Lembra-se do dia em que estávamos em meu apartamento, e lhe contei o segredo que acabou colocando em risco o nosso amor?
― E tem como eu me esquecer?
― Não tem. Fui tão burro! Você entendeu minha posição, me perdoou e me deu a chance de recomeçar.
― E o que você fez Eric?
― Te abandonei, fui frio, tentei me esquecer de você. Mas não foi possível! Fiz a escolha errada.
― Sim, você fez e agora é tarde demais para voltar atrás.
― Talvez seja, mas necessito ficar em paz comigo mesmo. A verdade é que eu me afastei porque a culpa pelo meu pecado foi muito mais forte que eu. Eu não podia permanecer ao seu lado sabendo o quão incrível você era. Você não merecia e eu não podia me perdoar. Mas agora sinto-me livre.
― Não cabia a você julgar o que seria melhor, mas sim a mim. Eu já havia lhe perdoado. O seu erro não me atingia, não seria capaz de destruir o que eu sentia por você. Mas a sua indiferença conseguiu. Eu estava preparada, e você fez a sua escolha mesmo sabendo que eu sempre estivera ali. A mulher que você conheceu não existe mais! Utilize sua sensação de liberdade e recomece uma nova vida. Torço por você, mas não me encaixo mais em sua história.
― Então... Este é o fim?
― Ou o começo... Só depende de você. Adeus!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Renúncia



“Assim como um dia não é igual ao outro, uma dor também não é. Não tenho receio de cair na mesmice, ou mesmo de parecer piegas. Estou me sentindo sozinho e preciso desabafar. Começo dizendo que eu amo a madrugada. Só consigo ouvir o barulho do vento balançando as folhas do abacateiro, o bater de asas de uma coruja, e visualizar meus sentimentos sendo colocados sobre a mesa. Já tentei tantas vezes compreender o que se passa dentro de mim. Exijo aquilo que não posso ter, tenho dificuldades para entender que a opinião do outro influencia totalmente em meus desejos. Gostaria que fosse do meu jeito, mas quem não quer? É... o mundo não gira em torno de mim. Ser carinhoso é uma característica que possuo, e procuro utilizar essa qualidade para com aqueles que julgo dignos dela. Mas não recebo em troca o que eu forneço. Ao menos não da maneira que eu queria e merecia. Uma palavra, um abraço, um “sim” à felicidade faz toda a diferença.

Sabe... eu penso às vezes em desistir, em fechar meu coração, em me tornar em algo que eu nunca consegui ser: indiferente! Mas eu penso que eu estaria sendo injusto comigo mesmo, àquilo que eu sou, e aos meus princípios. Não dá para não levar isso em conta. A vida tem passado tão rápida que sinto medo. Medo de ficar só, de não conquistar metade do que almejo. Será que a vida é mesmo feita para construirmos algo? Será que eu deveria parar de planejar, de me sentir responsável por um futuro que nem sei se estará lá por mim? O que devo fazer, quem devo ser e por que ser? Por quê? Cansei de ouvir e não ser ouvido, cansei de dar tudo de mim e não colher nada por meu esforço. Estou farto dos faróis, das buzinas, da aglomeração, das cores das roupas, da lousa, das folhas de papel, das ligações, das mensagens ilusórias, de tudo! Não é à toa que gosto de finais infelizes. Acho que me vejo em um deles, quem sabe!”

domingo, 19 de agosto de 2012

Recomeço




“Tudo começou com grãos de areia sobre meus pés. De repente, a água do mar limpava-os. O céu estava com um tom azul nunca visto antes por mim. O sol brilhava, e era tão bom sentir aquele calor em minha pele. Então, vi a imagem de alguém que parecia ser minha paixão. Eu podia sentir, pois meu corpo ardia, e meu coração estava acelerado também. Eram sinais, com certeza! Eu apenas não reconhecia o rosto. E essa pessoa me presenteou com deliciosas barras de chocolate. Posso sentir a emoção daquele momento agora mesmo. Pode parecer algo fútil para muitos ganhar barras de chocolate. Mas não se tratava delas, mas sim da intenção. Há muito tempo não me sentia bem quisto. Mas tudo isso foi um sonho, porque até os meus olhos agora inventaram de me trair. Até eles!

Acordei de mais uma noite de sábado, e eu só sabia que era sábado por causa do maldito calendário. Ainda o arranco da parede do meu quarto! Não me interessava saber qual dia era, porque todos eles se tornaram exatamente iguais para mim. Daqui a pouco eu nem saberia diferenciar o dia da noite. Nem relógios eu tinha mais. Apenas o biológico, que até então não falhou e por esse detalhe consigo chegar no horário certo ao trabalho. Ah! Me esqueci do tal do celular. Não tinha como! Por mais que eu tentasse fugir do tempo, ele não fugia de mim. Eram 22h30 e Laura – a única amiga e pessoa que confio – me ligou. Ela quase implorou para que eu saísse da cama e a encontrasse em um pub próximo de sua casa. Tentei resistir. Eu veria a mesma decoração, os mesmos rostos e de quebra ouviria as mesmas músicas. Mas eu devia um encontro a ela, como eu não poderia ir? Impossível!

Levantei-me, tomei uma ducha e coloquei a primeira roupa que eu vi à minha frente. Quando olhei para o espelho, eu estava todo de preto. Dizem que as cores que utilizamos são reflexo de nosso humor. Bom... nem preciso dizer que o meu estava negro, certo? Porém, aquilo não me incomodou. Eu era o retrato da depressão. Só havia uma pessoa que conseguia me tirar por um breve instante desse mundo de tristeza. Isso mesmo! Apenas Laurinha. Peguei as chaves do meu carro, desci do apartamento pelo elevador e me preparei para um percurso de 35 minutos. O som do meu carro tocava alguma música da Enya. Meu Deus! Aquilo era mesmo o fim do poço? Não saberia responder! Cheguei ao local e recebi um abraço tão gostoso da minha amiga. Ela estava deslumbrante com seu vestidinho amarelo, em um lindo contraste com sua pele morena. Cumprimentei seus amigos e me sentei à mesa. Pedi um vinho barato e simplesmente fiquei observando a conversa. Gargalhadas, olhos brilhantes, batatas fritas, carnes, cervejas, beijos, amor. Caraca! Não me lembrava da última vez que vi tudo isso reunido em um mesmo lugar. Eu com certeza era o marciano da mesa.

Foi quando ele apareceu. Não o vi antes porque ele estava no banheiro. Seu nome? Hugo. Não vou descrevê-lo, é melhor imaginar. Peguei em sua mão e o saudei com um “boa noite”. Ele sentou-se próximo de mim. Bem que eu estranhei aquela cadeira vazia. Era de se esperar que tinha um plano de Laura por trás daquilo. O Hugo, junto a mim, parecia outro marciano. Ao menos não me sentia sozinho naquele mundinho. Ele contou-me de sua vida. Quase um relato completo, - eu disse quase - e uma hora chegaria a minha vez. E quando chegou, simplesmente disse: “Desculpe-me, está tarde. Preciso ir embora!”. Sim, eu sou assim. Fujo de tudo aquilo que acho conveniente. Me despedi de todos, Laura agradeceu pela minha presença e prometi reencontrá-la em breve. Fui em direção ao carro, e senti um toque - já conhecido por mim – em meu braço. Te amaldiçoo Hugo! Sorri forçadamente e ele perguntou-me: “Me dá uma carona?”. Não! Eu merecia aquilo. Às 3h da manhã. Não quis ser arrogante, ou melhor, mais do que eu já era. E disse que sim, que eu daria a carona. O silêncio tomou conta daquele automóvel de 4 rodas. Chegamos à casa dele, que gloriosamente era perto da minha, e me despedi. Ele estava com um olhar de “por favor, fique!”, mas fingi não ter visto. Ele se despediu de mim e fechou a porta.

Quando arranquei o carro, a maldição dos 7 espíritos me atingiu. É... a roda furou! Aquilo era demais pra mim. Eu não tinha um pneu reserva, tampouco um macaco e isso tudo às 3 e pouca da madrugada. Foi um prato cheio para o Hugo. Sugeriu que eu dormisse na casa dele e que no dia seguinte eu resolvesse aquilo. Claro que eu poderia chamar um táxi e ir embora. Mas parte de mim queria ficar ali, com ele. Não presto, confesso! E deixei o clima falar mais alto. Entrei em sua casa, linda por sinal, e por incrível que pareça me senti à vontade. Hugo perguntou se eu queria beber algo, e eu disse que um suco estaria de bom tamanho. Enquanto isso fui xeretar os porta-retratos que estavam em uma mesinha de canto. E tinha uma foto dele, abraçado a um rapaz. Quando ele retornou com meu copo de suco em mãos, o perguntei quem era. Nunca fui de bancar o curioso, mas a foto chamou minha atenção. Ele disse sem hesitar: “Esse é meu parceiro. Melhor dizendo: era! Ele faleceu há 4 anos”. Senti pela perda dele, mas tão profundamente, que meu coração parecia sair pela boca. Não consegui conter as lágrimas. Comecei a soluçar em meio àquela sala. Hugo pareceu entender, eu talvez não entenderia. E com a voz trêmula eu disse: “Eu também perdi alguém! Entendo sua dor. A minha me dilacera todos os dias de minha vida”.

Sem buscar maiores informações de meu passado, ele apenas me deu um abraço e disse que dormiria no sofá e que eu poderia dormir em sua cama. Recusei, mas de nada adiantou! Limpei as lágrimas que não me faziam uma visita por longos meses, e peguei os cobertores e o travesseiro que já estavam sobre a cama e me preparei para dormir. E antes mesmo que eu pudesse fechar os meus olhos, a porta se abriu e Hugo entrou. Disse que já conhecia minha história através de Laura – aquela danadinha! – e que se identificou comigo antes mesmo de me conhecer. Sentou-se na beirada da cama, segurou minhas mãos e disse: “A minha vida por um bom tempo se encontrava na escuridão, só que eu não quis mais ficar lá. Decidi então sair, e agora estou disposto a recomeçar. E esta noite me provou que isso é possível. E eu só gostaria de saber se eu poderia tentar fazer isso com sua ajuda. Posso?”. Não o respondi com palavras, não saiu de minha boca sequer um som. A minha resposta estava no encontro de nossos lábios. E aquela noite mudou toda a minha vida... para sempre!”

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Destino... talvez!


“Eu costumava ser uma pessoa que duvidava do amor alheio. Via casais se beijando, passeando de mãos dadas pelas ruas, trocando carícias em um barzinho qualquer. E aquilo tudo era algo diferente para mim. Soava de uma maneira muito artificial. Como se fosse necessário mostrar ao mundo que você estava apaixonado, que tinha alguém para compartilhar a vida. Cheguei a pensar que eu jamais teria a necessidade de viver algo parecido. Contentava-me com meus filmes, jogos de vídeo-game, meus livros de ficção científica. O amor nunca tinha sido um tema que me despertava interesse. Verdadeiramente! Mas a vida traz consigo o tempo, e este nos traz sabedoria e nos ensina coisas diferentes a cada dia. Algo que eu pensava ontem, pode não ser o que penso hoje. Tudo muda! E eu mudei. Não sei se descobrir que eu era capaz de amar - e de querer isso - foi algo bom. A princípio sim, porque eu estava experimentando algo novo. Um sentimento que acredito ser inerente a todos nós. Há quem o sinta com mais intensidade, bem como há aqueles que preferem abafá-lo. Bom... cada um sabe de si. O que sei é que o tal do amor bateu à minha porta, e o convidei para entrar. Acho que o recepcionei tão bem que ele permaneceu em minha morada. E a partir daí percebi que as pessoas que tinham medo dele estavam equivocadas. Como ter medo de algo tão bom? Não entendia. Até certo ponto, claro! Sentir o fogo da paixão é uma das etapas de um grande processo. Processo este que se estende ao patamar do engano, da desilusão, das lágrimas. Hoje, analisando, me parece uma situação que gradativamente vai piorando. Ao menos em todos os meus “relacionamentos” foi assim. De mal a pior. Acredito que algumas pessoas possuem a sabedoria para balancear uma vida a dois. Vemos tantos casais juntos há anos. E não duvido que esse amor de décadas seja real. Apenas não me imagino tendo algo tão real quanto esses. Espere! Não imaginava, porque acontecimentos recentes podem me provar o contrário.

O que realmente quero dizer é que mesmo com um currículo amoroso nada vistoso, ainda persisto em procurar o amor. Já o experimentei uma vez e foi bom. Independente de outros detalhes já explicitados. Até hoje não encontrei alguém que me fizesse sentir pleno, em todos os sentidos da palavra. E aproveito para entrar em outro assunto que me fez rever alguns conceitos. O assunto se chama: destino. A ideia de que alguém já teria traçado um percurso para mim era absurda. Sempre gostei de me sentir no controle. Mas tal coisa não existe! Sempre tem algo que nos escapa dos dedos. A morte, por exemplo, nos dá uma clara visão de que não obtemos o poder de encará-la. Portanto, tenho acreditado piamente que há males que vem pra bem; que amores vêm e vão, e que tudo acontece quando tiver que acontecer. Conheci pessoas maravilhosas que acrescentaram à minha vida ensinamentos e perspectivas inimagináveis. O “por acaso” não faz mais sentido pra mim. Tem coisas que têm o dedo de alguém. Li uma frase de um grande escritor, que dizia: “Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas, antes mesmo que os corpos se vejam." E senti isso recentemente quando, supostamente, não era pra eu estar em um determinado ambiente. Poderia ter feito 1001 coisas. Ter desistido de ir, ter ficado do outro lado da festa, ter ido embora mais cedo. Mas não! Estive ali, e aconteceu o que tinha que acontecer. Não sei o que o tal destino me reserva e não me importa. Vou pagar pra ver. Adotei a ideia de que todos nós merecemos ser felizes... ponto final!”

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Primavera da Paixão



Toronto, 11 de Maio de 2003

Querida Valentine,

Venho através desta carta lhe contar algo que há muito tempo eu queria revelar, mas me faltou coragem. E antes mesmo de explicitar os motivos pelos quais resolvi escrever para você, necessito relatar o prelúdio deste sentimento. E aqui começo essa história: Era uma manhã de primavera, e eu acordava para mais um dia de minhas merecidas férias. Como eu morava só, liguei o aparelho de som no último volume e coloquei uma música bem agitada para me animar. Tomei meu café da manhã, enquanto observava pelas janelas da cozinha folhas vermelhas crescerem pelas árvores bordôs. Quando o sol as atingia, parecia que aos arredores de minha casa estava em chamas. Definitivamente era algo lindo de se ver. Coloquei uma roupa leve, para que meu corpo sentisse a brisa da manhã e me dirigi ao parque. Àquele parque que, comumente, você visitava. Esse era o meu único objetivo: ver sua imagem gloriosa, em meio ao campo verdejante. Ah! Como você era fabulosa. Cabelos ruivos e cacheados, uma pele branca como a neve e um sorriso - Meu Deus! - arrebatador. Eu procurava um meio de chegar até você, mas minha timidez não permitia. E disse a mim que isso não podia continuar assim.

Foi então que, naquela tarde chuvosa, impulsivamente a convidei para entrar em meu carro e você – sem pestanejar – adentrou àquele veículo. Eu poderia ser uma pessoa com más intenções, ou qualquer coisa do tipo, e ainda assim você confiou em mim. Lembro-me como se fosse hoje o som de sua voz me dizendo: “Olá!”. Eu tive a impressão que Deus enviou um dos seus lindos anjos para me fazer uma visita. Minhas mãos tremiam no volante, e as gotas de chuva caíam sobre os vidros e nem forças para ligar o carro eu tive. Mas respondi o seu cumprimento. Eu devia parecer a pessoa mais boba do universo, não é mesmo? Porém, eu estava diante da oportunidade que eu tanto almejava. Então sugeri que fôssemos tomar aquele chocolate quente. Fiquei muito feliz com sua resposta positiva à minha sugestão. Ao chegarmos ao Café, sentamos em uma mesa bem ornamentada. Era um local que eu gostava muito de freqüentar. Muito aconchegante, diga-se de passagem, mas não tanto quanto sua presença ali. Sua beleza roubou a cena, roubou meu coração. Nos apresentamos, e nada falei de minha vida. Ela era tão sem graça comparada a sua. Eu só queria te observar, te ouvir, e sonhar com um futuro que não parecia distante. Tá... talvez eu não estivesse bem das ideias, mas era o que eu sentia naquele momento. E nada, nem ninguém podia dizer que aquilo era errado. Infelizmente chegou o inevitável fim da noite, e com pesar me despedi de você, após deixá-la na porta de casa. Mas com a promessa de que a encontraria no dia seguinte, e eu mal podia esperar por esse momento.

Nossa amizade se estendeu por toda a primavera. Visitei sua casa, lhe contei segredos íntimos, dividi com você risos e expectativas. E crescia cada vez mais a vontade de ter você em meus braços. De compartilhar uma vida extremamente magnificente, digna de nós. Mas como costumam dizer por aí: “Quanto mais se quer, menos se tem”. E foi exatamente o que ocorreu. Eis que mais um dia chegou, e fui ao seu encontro, embora eu não soubesse o que estava à minha espera. Ao chegar onde tudo começou, vi você distante, cabelo ao vento, com um rapaz que agora te abraçava e que, sem hesitar, beijava seus lindos lábios. Só de pensar que por um instante acreditei que havia encontrado o amor da minha vida. As lágrimas desciam pelo meu rosto e naquele momento não me restava outra alternativa a não ser desistir de você. Jamais faria algo que a prejudicasse. Poderia saber de tudo ao seu respeito, exceto que você já tinha um grande amor.

Enfim... cheguei onde eu queria. Escrevo esta carta em uma cama de hospital. Sim, estou morrendo. Morrendo lentamente. Mas cada pedacinho de mim que se vai a cada dia, vai junto a você. Nunca tive a coragem de dizer que te amo, nunca lhe dei um beijo, nunca corremos por aquele parque de mãos dadas, ou sequer assistimos a um filme romântico debaixo dos cobertores. Tudo isso agora é algo que se encontra em meus sonhos, apenas lá. Não sei se estas palavras serão lidas por seus lindos olhos verdes, mas espero verdadeiramente que sim. Este é o meu último ato de coragem. E quisera eu que o tempo voltasse. Porque eu juro, minha amada, juro que faria tudo diferente. Caso não se lembre, meu nome é Yeda. Alguém que jamais te esquecerá.

Um grande beijo,

De seu eterno amor.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Indagações



“Finalmente obtive a resposta que eu tanto queria ouvir. Agora sei que nada do que eu disser vai mudar o seu plano de vida. Mas essa já era uma situação que eu esperava viver. Os anos que se passaram foram tão iguais. Parece que estou tendo um déjà vu, ou deveria dizer: a reprise do último ato daquele filme, no qual os protagonistas têm um final nada agradável? Seja o que for, agora não importa mais! Porém, nem todos os meus questionamentos foram sanados. Tenho um em particular que insiste em me incomodar. E a tal pergunta é: Por que toda vez o meu destino parece enevoado? Sei que não estou em posição de exigir nada, mas querer ser feliz é pedir muito? Acho que sim, porque tenho pagado um preço muito alto por esse sentimento. Meus momentos de felicidade são tão breves que, quando estou os tendo, já fico pensando e sentindo a solidão dos dias vindouros. Será que estou sendo um masoquista por pensar assim? Por que ao invés de eu me deliciar de tais momentos, essa tristeza atinge o âmago do meu ser? Sinto-me mais uma vez em uma bifurcação. Tenho medo de pegar a estrada errada, e acabar novamente assim... como estou. Mas vou ter que arriscar! Afinal, não tenho muitas alternativas, tenho?"

Inverdades



“A minha vida aparentemente se encontrava em um momento sublime. Eu possuía uma bela casa, um emprego que atendia as minhas expectativas, e o melhor de tudo: um grande amor. Jamais me queixaria de tudo que alcancei. Muito pelo contrário! Sou uma pessoa que sabe reconhecer os esforços feitos não só por mim, bem como os de quem sempre esteve ao meu lado. Já estava casada há 15 anos, e a pergunta mais corriqueira que ouvia de amigos era: “Você ainda é feliz?”. A resposta estava na ponta da língua. Um belo “SIM” saía de meus lábios sempre que eu ouvia a tal frase. Não vou dizer que nunca tive problemas e que estes 15 anos foram um mar de rosas. Como todo casal, sempre há uma desavença. Seja pela falta de diálogo, pela toalha molhada em cima da cama, ou mesmo pelo desinteresse de sair numa bela noite de sábado, quando um de nós estava extremamente exausto. E foi numa noite dessas - em que eu estava sozinha em casa - que me fiz a pergunta que tantos outros, incansavelmente, faziam a mim: “Ainda sou feliz?”. E cheguei à conclusão de que, por todo esse tempo, menti para mim mesma. E pior que mentir para mim mesma, foi descobrir que sou uma bela atriz. Escondi tantas verdades por debaixo do tapete, fingi estar feliz quando – na realidade – estava destroçada. Repito: Sou grata por tudo que alcancei com meu marido, mas no fim das contas o amor não foi o suficiente. E se acabou, não foi por culpa de um só. Nós dois erramos... e muito. Mas a vida precisa continuar! Hoje me sinto uma nova mulher. E preparada para amar de novo. Aliás, o amor nunca morre dentro de nós, porque sempre estaremos - de uma forma ou outra - preparados para novas descobertas. O que morre é o respeito e a credibilidade, quando a confiança está em cacos, como um espelho quebrado.”

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Lembranças de Outrora



“Após tanto tempo sem me lembrar de sua existência, vi alguém amarrando os tênis em uma estação de metrô. E esta pessoa me fez lembrar você. Naquele momento meu coração disparou e por um breve instante pensei mesmo que você estava ali, diante de mim. Eu esperei um olhar em retorno aos meus, mas não obtive o desejado. Queria ter sido reconhecido, talvez causar algum impacto em suas lembranças com a minha presença. Foi então que um filme começou a passar por minha cabeça, e lembrei-me de quando dormimos em um colchão colocado na sala de estar. Senti o seu calor, seus braços entrelaçados aos meus, e experimentei pela primeira vez a tão famosa posição de conchinha. E como esquecer do encontro dos meus olhos castanhos com seus olhos azuis, ao acordarmos naquela bela manhã? Mas isso foi passado, um passado que ainda me dói. Acho que na verdade nunca te esquecerei. Juro que eu queria que os momentos bons fossem mais fortes que o seu desprezo, mas não são. Então... apenas entrei no vagão - não no mesmo daquele ser extremamente idêntico a ti – e tentei afastar de mim aquele momento nostálgico. Ah! Estive tão perto de ser feliz, tão perto.”

domingo, 5 de agosto de 2012

Fim Nefasto



“A dor que sinto não é física, tampouco mental, é em algum lugar desconhecido por mim. Talvez na alma, não sei dizer ao certo. Vejo-me em um deserto sem sombras, sem água, sem saída. Ando por um solo desnivelado que afunda os meus pés. Estes estão em chamas devido a um sol escaldante que, além disso, também tira o pouco ar que me resta. Não busco por socorro, porque tenho a plena consciência de que não há ninguém ali. Encaro então meu passado, meu presente e futuro. Uma lágrima escorre, minhas pernas enfraquecem e o fim de uma dor que eu já não suportava mais finda ali, no vazio, na solidão.”

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Doce Ilusão



“Quando mais um ano findou, disse a mim mesmo que dali pra frente tudo seria diferente. Acreditei no mais profundo do meu baqueado coração que eu encontraria alguém como você. E você estava tão próximo. Na sala ao lado. Seu olhar me cativou, seu riso espontâneo, o seu perfume de boa marca. Me senti como uma criança de novo. Cada vez que eu te via pelos corredores era uma emoção diferente. Ah! Se era. O tom de sua voz estava impregnado em minha cabeça. Cada canção de amor era nossa, mesmo que você não estivesse ciente disso.  Mas acho que assusto as pessoas, porque sou esse romântico incorrigível e cada detalhe me faz acreditar que  tudo é possível. Até mesmo aquele amor impossível, que só era impossível por você. Por mim não, sabe por quê? Porque sempre estive à espreita, esperando oportunidades como essa. Sempre estive pronto, porque perder tempo é algo que nunca chamou minha atenção. Agora quando te vejo, só consigo me lembrar de um abraço que lhe dei, e de quando dividimos o mesmo guarda-chuva em meio àquela tempestade. O mais viável neste momento é manter essas boas recordações, porque mais nenhuma será feita por nós. Infelizmente chegou ao fim o que nem tinha começado.”

Glorioso Reflexo



“Hoje ao me acordar, olhei diretamente para o espelho. E para minha surpresa, não reconheci a pessoa que estava do outro lado. É engraçado, porque me enxergar em qualquer reflexo que fosse era um dissabor imensurável. Mas agora era diferente. Não se tratava da nova tonalidade que eu acabara de aplicar em meus cabelos, ou o rosto que a cada dia envelhecia um pouco mais. Desta vez não! Era o encontro que eu esperava há tanto tempo. Um encontro com minha nova alma. O choque não foi vislumbrar aquele momento incomum, mas sim ter percebido que fui capaz de mudar, de ter me desvinculado daquela outra energia que insistia em deixar minha vida cada dia mais tétrica. Finalmente não preciso mais esconder meus reflexos com panos brancos. Essa nova pessoa veio pra ficar! E necessito refletir, nem que seja pela imagem distorcida de uma colher côncava.”

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sonho Interrompido



“Você é um passado que insiste em vagar minha mente. Você agora é um espectro, uma sombra que me assombra. Eu me encontrava no mais lúgubre mar, bem além de qualquer esperança, onde não havia vida. Você chegou, fez um rebuliço em meu ser, me fez renascer, sentir novamente aquilo que há muito tempo não sentia. Sim, o amor. Suas palavras tinham gosto de mel, embora fossem fel. E assim como veio a bonança, ela se foi. Num piscar de olhos meus sonhos desmoronaram, os alicerces de minha fortaleza se romperam. Não obtive respostas para as perguntas que eu possuía. Tudo ficou por isso mesmo. Sem motivos, sem pistas. Necessitava enxergar em que ponto eu havia errado, em que momento eu havia te ferido. Mas pensando bem não fui eu quem te feriu, mas sim você a si mesmo. O amor era um presente que eu queria lhe dar e, agora, ele se encontra entre as cinzas, pois o seu orgulho colocou em chamas o que eu tinha de mais precioso.” 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Solidão Compreensível



“Pela primeira vez não sinto mais aquele aperto no coração. Isso significa que, mesmo que você for embora, já não importa mais. Talvez eu sinta saudades das horas em que conversávamos ao telefone, de seu riso tímido, de sua presença tão próxima de mim. Você não será a primeira pessoa a me deixar. Houveram outras, acredite! E acho que estou me acostumando com esse abandono. Só estive uma única vez na posição de não querer mais alguém, e não me doeu, porque julguei ser o certo o que fiz. Por isso, meu amor, eu consigo compreender-te. Não podemos obrigar ninguém a nos amar, não é mesmo? O que sinto é só meu, e o que você sente... bom, o que você sente é uma incógnita. Mas acredito existir medo, dúvida, mil e uma indagações nessa sua linda cabecinha. O que me resta a não ser respeitar sua posição? Se estarei aqui à sua espera, não posso garantir. Mas de uma coisa eu tenho certeza... você vai lembrar de mim!”

Amor Dúbio



“Amor! O que é o amor mesmo? É algo bom, ruim? Não sei mesmo responder. Acho que não tem uma explicação para esse sentimento tão complicado. Ao mesmo tempo em que nos faz perder o fôlego, suspirar, sonhar, também nos faz chorar, perder o apetite, ficarmos um pouco desgostosos. Haverá decepções, e estas nos levará a acreditar que tudo se perdeu. E neste ponto nos fechamos, pois o medo de se ferir de novo é algo tão vívido. Mas eis que nos deparamos com o tal do amor novamente. E sabe aqueles sentimentos tristes que tivemos outrora? Não, não sabemos! Porque eles são sobrepostos por essa nova chama, esse novo calor que vem de dentro da alma, nos aquecendo até à ponta dos dedos. Sentimos mais uma vez aquela vontade de amar, de ser feliz, de dar tudo de nós mesmos. Sim, acredito que é possível nos dar sempre novas chances. Porque – sinceramente – ainda estamos vivos, e enquanto estivermos nesta posição, sempre buscaremos por mais. Se ferir é um risco, mas é preferível enfrentar esse risco a ter que ficar com a dúvida do que teria sido. Por isso… AME, sem hesitar!”