domingo, 2 de junho de 2013

Palavras Inexistentes


"Ele não sabia por onde começar e pensava antes de escrever cada palavra. Aquele momento exigia inspiração e era exatamente o que lhe faltava. O receio em utilizar um discurso tão repetitivo era presente, mas a ânsia por ser compreendido sobrepunha tudo o que já fora dito. Sempre existe uma fuga. A dele encontrava-se nas palavras. Estas possuíam um poder que ele sabia existir e que mais uma vez seriam suas aliadas.

Esse ser outrora tão ingênuo e que jamais imaginou que o amor poderia bater à sua porta, encontrava-se agora em plena consciência da realidade. Realidade que fere, que se assemelha à uma faca de dois gumes. Falar sobre o amor era um assunto que já não cabia, que o deixava inquieto e ao mesmo tempo trôpego. Mas como não abordar um sentimento que está em nós? Encontra-se em cada esquina, em cada gesto de carinho, em cada toque dos lábios, em cada olhar, em cada encontro. Era cruel admitir, mas a felicidade alheia já o incomodava. Não por inveja, mas por ver tão distante essa possibilidade em sua vida.

Nunca seremos jovens demais para amar, para nos sentirmos desejados e alcançarmos tudo aquilo que julgamos necessário. Porque o necessário é um ponto de vista profundamente particular. Apenas nós mesmos sabemos onde a ferida dói e até que ponto estamos dispostos a aceitá-la. É exatamente em seu momento de maior amargor e tristeza que a felicidade decide entrar em cena. Por quais motivos até ele desconhecia, mas já via tudo aquilo como algo que precisava coexistir com seus sentimentos. No fundo ele acreditava que cada um possuía o que merecia. E se o que ele merecia era a solidão, então não havia mais nada que pudesse fazer a não ser aceitá-la. Tudo tem o seu tempo já não era mais uma frase que o satisfazia ou que o alimentava. A fome permanecia e nada podia saciá-la. Os amores verdadeiros só eram reais em seus sonhos, porque eles eram exatamente o reflexo de seus desejos. Mas desejos são apenas vontades e de vontades ele já estava farto."