"A primeira vez que fui
verdadeiramente amado, eu não amei. Quando recebi um abraço sincero, não senti
aquele calor típico. Quando fui beijado com intensidade, eu estava vazio. E neste
quadro no qual eu me encontrava, em um momento de ausência do outro ser que
possivelmente me completaria, observei duas pessoas que se amavam. Eu consegui
sentir, do local em que eu estava, a essência daquela paixão. Tive inveja,
desespero, indagações. Inveja porque eu almejava algo parecido, desespero
porque o tempo passava e indagações porque nunca me senti merecedor do amor.
Naquela noite interrompi mais um
sonho, mas um sonho que não era meu. Não poderia entrar por aquela porta que
agora se abria diante de mim. Seria injusto! E a fechei, sem hesitar. E só não
senti tristeza por fazer alguém chorar, porque entre o meu bem estar e as
conjecturas do outro, sempre fiquei com a primeira opção. Agora o que restou
foi o que sempre resta dessas situações. A distância. Os interesses de outrora
se foram, as mãos entrelaçadas se desfizeram e por fim os olhos nos olhos
encontram-se em um quarto escuro. Afinal, o que foi tudo isso? Amor? Acho que
não!"