"Por mais que eu soubesse quais eram as consequências, decidi
arriscar. Sempre me pergunto se as decisões que tomo são boas ou ruins, mas - independente
da resposta - o que prevalece é o que realmente quero. Até aqui, tantas foram
as vezes que acreditei naquela frase: “agora vai!”, mas nunca foi e nem sei se
um dia irá. Agora entro na fase da abstinência. Sim, o deslumbre também é uma
droga e ele sempre me vicia, mesmo quando acredito estar curado. E como toda
abstinência, sei que vou sofrer, mas também sei que um dia ela acaba. Até começar
tudo de novo.
A vida sempre tem uma maneira de nos mostrar como ela é
linda, mas é em sua perversidade que ela se mostra mais eficaz. Digo isso não
como alguém que tem uma visão ruim de um todo, mas como alguém que enxerga a
verdadeira essência. Continuamente avalio minha existência e em uma última
visita percebi que há coisas que simplesmente não são para ser. Temos que nos
contentar com o que nos é dado e, talvez, esperarmos por algo que julgamos
melhor. É incrível perceber o quanto dependemos do outro. Por isso, tenho me
sentido no direito de me permitir não sofrer por ocasiões que não exigem de mim
nenhum esforço.
É coerente pensar que sou um masoquista. Afinal, passei por situações
que eram exatamente iguais em seu início e em seu fim. A dor agora é diferente.
Não é tão dilacerante como as outras vezes. Desta vez é uma dor consciente,
mais culpada. Porque antes havia a inocência e hoje há a realidade. Realidade cruel
que insiste em me invadir e me chamar para um passeio. Não sei o que
represento, não sei aonde pertenço. Se há algum lugar para mim, espero encontrá-lo
logo."