sábado, 7 de setembro de 2013

Vazio


Era tarde. Tudo o que ela sentia era o vazio da noite que se misturava agora ao seu vazio interior. Lágrimas caíam por motivos que ela tentava encontrar, mas nunca obtivera sucesso. Angústia, tristeza, raiva e mágoa eram as únicas palavras que faziam parte de seu extenso vocabulário. Sim, estava imersa pela dor que até há alguns dias encontrava-se inexistente. Neutralidade era o que a preenchia. Pela primeira vez se sentia incapaz de ser atingida ou mesmo de sentir a dor que tanto lhe fazia companhia nas horas de escuridão.

Parecia improvável! Ela estava tão segura de si, tão confiante de que aquela era a maneira na qual precisava viver. Outrora os antigos amores eram vistos como ponte para sua maturidade, para o instante de sua realidade. Passaram a serem vistos como um borrão, uma mancha que não sai, que está ali impregnada. Pois ela tinha voltado ao começo. Meu Deus, voltou à estaca zero. E toda postura adotada para não se ferir fora inútil, porque a sensação que percorria seu corpo não era inedita. Sempre estivera ali, mas não havia sido despertada.

Chovia lá fora. As suas mãos tocaram, por fora da janela, as gotas que caíam. Não era apenas ela que chorava aquela noite, o céu também estava triste. Talvez porque estivesse sendo complacente ao seu lúgubre estado. Um calor a invadiu e aquela moça despiu-se com a intenção de se sentir liberta, livre das amarras. Ela acreditava ser o primeiro passo antes de despir a parte mais difícil: sua alma. Ela queria, necessitava, implorava para que a água da chuva pudesse lavá-la por inteiro. Mas não ousou sair porta afora. Simplesmente avistou um banquinho no corredor e sentou-se, recostada à parede fria e escura. De fato não havia nada, não havia ninguém. Era árduo aceitar, mas ela estava novamente sozinha com sua dor.