"Quem diria que chegaríamos a esse ponto. Não sinto mais aquele calor dentro do meu peito ao ler suas mensagens. Não me sinto impactado por suas ligações fora de hora. Inclusive já me confundo com o seu nome diante de tantos outros iguais ao seu. Definitivamente sou outra pessoa, porque há alguns anos minha atitude em relação a episódios típicos como esse seria de desespero. Podem me chamar de frio, mas prefiro dizer que estou acordado. E ao contrário dos contos infantis, nenhum beijo me acordará da morte. Tornei-me impassível às dores, ao sofrimento. Estou anestesiado por essa vida que sempre me olhou com os mesmos olhos, e mal sabe ela que agora sou eu quem a vejo de um jeito diferente.
Quero que saibam que não me
encontro mais em bifurcações. Sei bem o caminho que estou tomando. E apesar de
não saber o que encontrarei no final dessa estrada, não me surpreenderei se não
for algo divino. Mas acreditem, ainda espero um final feliz. Não sou nenhum
monstro, não perdi meus dons e nem mesmo a humanidade. Simplesmente acordei do
coma... e demorou. Ainda tento me apegar aos momentos em que estivemos juntos.
Tento relembrar do sabor do seu beijo, das carícias, do toque de mãos, do seu
cheiro, dos meus pés nas pontas dos dedos pela minha estatura não tão
favorecida. Mas tudo isso não tem sido o suficiente. Tenho me esforçado, eu
juro! Porém, está sendo mais forte que eu. Perdoe-me se eu te esquecer ou mesmo
se nada mais fizer sentido. É que estou me desapegando e essa atitude foi a
única que deu certo em toda a minha vida, em todas as ocasiões. Não é o momento
de dar adeus, porque ainda não é chegado o fim."