"Ele voltou! Eu sabia que estava
por aí, à espreita, esperando uma oportunidade para me ver limpo, curado, totalmente
nu. Ele sempre retorna de maneiras diferentes. Às vezes há algo dessemelhante no
olhar, outras é no tom doce da voz e também há o sorriso, que pode ser
confiante ou mesmo tímido. Desta vez demorou um pouco mais, mas foi o tempo
suficiente para que meu coração se apaziguasse. Confesso que ainda não estou
preparado para esse reencontro e nem sei se é mesmo necessário. Mas é que ele
tem o poder de me regenerar, de me levar a um estado de espírito do qual eu não
consigo expressar em palavras a sensação que me domina. Apenas sinto e, por ora,
isso é o suficiente.
Eu adoraria desvendar qual é a
sua verdadeira faceta, mas ela ainda é um mistério para mim. Há momentos em que
parece ser lindo e com a capacidade de apagar todas as feridas já desenhadas
pelo meu corpo. Já em outros, parece ser perverso. Com um aspecto peculiarmente
mordaz e que demonstra ser mais forte que a sua primeira feição. Porém, algo é
inegável! Sua imponência é invejável e, por mais que eu tente, não consigo me
livrar de sua persuasão. É como se fosse o canto da sereia, que atrai todos
aqueles seres ínfimos. Porque é exatamente assim que me sinto em determinados
momentos, ínfimo, vil, vulgar e muito fraco para não aceitá-lo de volta.
Tenho plena consciência de que
ele conhece cada pedacinho de mim. Já é
um hóspede que há muito frequenta minha moradia. Ainda não consigo perceber se
um dia ele irá se instalar definitivamente. Acontece que, de certa forma, já
não me surpreendo mais com suas idas e vindas. O tempo se encarregou de me
mostrar que não perdemos aquilo que não temos e o que é para ser nosso, em
algum momento dessa história, apenas será. Muitos o chamam de invasor, mas eu
prefiro chamá-lo de AMOR."
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