Era tarde. Tudo o que ela sentia
era o vazio da noite que se misturava agora ao seu vazio interior. Lágrimas
caíam por motivos que ela tentava encontrar, mas nunca obtivera sucesso. Angústia,
tristeza, raiva e mágoa eram as únicas palavras que faziam parte de seu extenso
vocabulário. Sim, estava imersa pela dor que até há alguns dias encontrava-se inexistente. Neutralidade era o que a preenchia. Pela primeira
vez se sentia incapaz de ser atingida ou mesmo de sentir a dor que tanto lhe
fazia companhia nas horas de escuridão.
Parecia improvável! Ela estava
tão segura de si, tão confiante de que aquela era a maneira na qual precisava viver. Outrora os antigos amores eram vistos como ponte para sua
maturidade, para o instante de sua realidade. Passaram a serem vistos como um
borrão, uma mancha que não sai, que está ali impregnada. Pois ela tinha voltado
ao começo. Meu Deus, voltou à estaca zero. E toda postura adotada para não
se ferir fora inútil, porque a sensação que percorria seu corpo não era inedita.
Sempre estivera ali, mas não havia sido despertada.
Chovia lá fora. As suas mãos
tocaram, por fora da janela, as gotas que caíam. Não era apenas ela que chorava
aquela noite, o céu também estava triste. Talvez porque estivesse sendo
complacente ao seu lúgubre estado. Um calor a invadiu e aquela moça despiu-se
com a intenção de se sentir liberta, livre das amarras. Ela acreditava ser o
primeiro passo antes de despir a parte mais difícil: sua alma. Ela queria,
necessitava, implorava para que a água da chuva pudesse lavá-la por inteiro.
Mas não ousou sair porta afora. Simplesmente avistou um banquinho no corredor e
sentou-se, recostada à parede fria e escura. De fato não havia nada, não havia
ninguém. Era árduo aceitar, mas ela estava novamente sozinha com sua dor.
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