sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Primavera da Paixão



Toronto, 11 de Maio de 2003

Querida Valentine,

Venho através desta carta lhe contar algo que há muito tempo eu queria revelar, mas me faltou coragem. E antes mesmo de explicitar os motivos pelos quais resolvi escrever para você, necessito relatar o prelúdio deste sentimento. E aqui começo essa história: Era uma manhã de primavera, e eu acordava para mais um dia de minhas merecidas férias. Como eu morava só, liguei o aparelho de som no último volume e coloquei uma música bem agitada para me animar. Tomei meu café da manhã, enquanto observava pelas janelas da cozinha folhas vermelhas crescerem pelas árvores bordôs. Quando o sol as atingia, parecia que aos arredores de minha casa estava em chamas. Definitivamente era algo lindo de se ver. Coloquei uma roupa leve, para que meu corpo sentisse a brisa da manhã e me dirigi ao parque. Àquele parque que, comumente, você visitava. Esse era o meu único objetivo: ver sua imagem gloriosa, em meio ao campo verdejante. Ah! Como você era fabulosa. Cabelos ruivos e cacheados, uma pele branca como a neve e um sorriso - Meu Deus! - arrebatador. Eu procurava um meio de chegar até você, mas minha timidez não permitia. E disse a mim que isso não podia continuar assim.

Foi então que, naquela tarde chuvosa, impulsivamente a convidei para entrar em meu carro e você – sem pestanejar – adentrou àquele veículo. Eu poderia ser uma pessoa com más intenções, ou qualquer coisa do tipo, e ainda assim você confiou em mim. Lembro-me como se fosse hoje o som de sua voz me dizendo: “Olá!”. Eu tive a impressão que Deus enviou um dos seus lindos anjos para me fazer uma visita. Minhas mãos tremiam no volante, e as gotas de chuva caíam sobre os vidros e nem forças para ligar o carro eu tive. Mas respondi o seu cumprimento. Eu devia parecer a pessoa mais boba do universo, não é mesmo? Porém, eu estava diante da oportunidade que eu tanto almejava. Então sugeri que fôssemos tomar aquele chocolate quente. Fiquei muito feliz com sua resposta positiva à minha sugestão. Ao chegarmos ao Café, sentamos em uma mesa bem ornamentada. Era um local que eu gostava muito de freqüentar. Muito aconchegante, diga-se de passagem, mas não tanto quanto sua presença ali. Sua beleza roubou a cena, roubou meu coração. Nos apresentamos, e nada falei de minha vida. Ela era tão sem graça comparada a sua. Eu só queria te observar, te ouvir, e sonhar com um futuro que não parecia distante. Tá... talvez eu não estivesse bem das ideias, mas era o que eu sentia naquele momento. E nada, nem ninguém podia dizer que aquilo era errado. Infelizmente chegou o inevitável fim da noite, e com pesar me despedi de você, após deixá-la na porta de casa. Mas com a promessa de que a encontraria no dia seguinte, e eu mal podia esperar por esse momento.

Nossa amizade se estendeu por toda a primavera. Visitei sua casa, lhe contei segredos íntimos, dividi com você risos e expectativas. E crescia cada vez mais a vontade de ter você em meus braços. De compartilhar uma vida extremamente magnificente, digna de nós. Mas como costumam dizer por aí: “Quanto mais se quer, menos se tem”. E foi exatamente o que ocorreu. Eis que mais um dia chegou, e fui ao seu encontro, embora eu não soubesse o que estava à minha espera. Ao chegar onde tudo começou, vi você distante, cabelo ao vento, com um rapaz que agora te abraçava e que, sem hesitar, beijava seus lindos lábios. Só de pensar que por um instante acreditei que havia encontrado o amor da minha vida. As lágrimas desciam pelo meu rosto e naquele momento não me restava outra alternativa a não ser desistir de você. Jamais faria algo que a prejudicasse. Poderia saber de tudo ao seu respeito, exceto que você já tinha um grande amor.

Enfim... cheguei onde eu queria. Escrevo esta carta em uma cama de hospital. Sim, estou morrendo. Morrendo lentamente. Mas cada pedacinho de mim que se vai a cada dia, vai junto a você. Nunca tive a coragem de dizer que te amo, nunca lhe dei um beijo, nunca corremos por aquele parque de mãos dadas, ou sequer assistimos a um filme romântico debaixo dos cobertores. Tudo isso agora é algo que se encontra em meus sonhos, apenas lá. Não sei se estas palavras serão lidas por seus lindos olhos verdes, mas espero verdadeiramente que sim. Este é o meu último ato de coragem. E quisera eu que o tempo voltasse. Porque eu juro, minha amada, juro que faria tudo diferente. Caso não se lembre, meu nome é Yeda. Alguém que jamais te esquecerá.

Um grande beijo,

De seu eterno amor.

4 comentários:

  1. Surpreendente! Essa ideia de parque me leva à uma querida professora! Quando leio alguma história que se passa em algum parque, sempre imagino algo semelhante ao Central Park, talvez por alguma relação com filmes.
    Triste despedida. Isso reforça o que carrego como lema:
    "Nunca desista de um amor sem jamais ter lutado por ele". Por isso que nao perco tempo de dizer a alguem o quanto amo.

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  2. Muita certeza o amor tão expressivo: se fosse pra me estaria agora neste momento sorrindo abastecida de quão infinito é o amor bjsssss

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